"Histórias de um Casamento" e todos os não-ditos de um casal
Não estou fazendo maratona do Oscar desta vez (muitas coisas acontecendo na última semana, eu simplesmente não dei conta), mas alguns dos concorrentes passaram por mim, como "Histórias de um Casamento", produção da Netflix. O longa conta a história de Nicole (Scarlett Johansson) e seu marido Charlie (Adam Driver), que estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern), especialista no assunto. Surpreso com a decisão da agora ex-esposa, Charlie precisa encontrar um advogado para tratar da custódia do filho deles, o pequeno Henry (Azhy Robertson). O que era pra ser uma separação tranquila vira simplesmente o caos.
"Histórias de um Casamento" já começa com um apanhado de como cada um vê a si mesmo e ao outro, o que é interessantíssimo, porque percebemos como a forma como os protagonistas se veem é muito mais cruel do que como são percebidos pelos cônjuges. E é claro que toda essa sensação de insegurança e inferioridade afeta diretamente nos medos que surgem no momento do divórcio.
E, se você já passou por processos de divórcio (seja seu próprio ou de alguém muito próximo), sabe como as coisas são vistas de maneiras distorcidas por quem estava de fora. É comum que amigos e conhecidos não consigam entender porque aquele casal se separou, já que eram basicamente uma "entidade única". Só os envolvidos sabem o que acontece dentro de casa e porque a separação foi necessária.
Em "Histórias de um Casamento" vamos percebendo o desgaste de todo esse processo quando o jogo vai ficando cada vez mais sujo em prol de interesses pessoais que, muitas vezes, são indicados e influenciados por advogados (aliás, nojo demais dos homens que vão defender Charlie). Todas as questões que ficaram guardadas por 10 anos são jogadas na cara de maneira muito dolorida para ambos os lados. E com muitos arrependimentos, claro.
Mas não podemos deixar de lado como, no fim das contas e como é de costume, o homem tem seus privilégios. Na vida profissional, ela era a atriz e ele o diretor, o que já conota uma situação de hierarquia. No casamento, Nicole abriu mão de muitas coisas em prol da carreira do marido e do cuidado com o filho. Ele, que conseguiu seguir seus planos e sonhos, muitas vezes não compreende a renúncia feita pela esposa.
E, depois que terminei de escrever este texto, achei este vídeo da própria Netflix que basicamente diz tudo que eu disse aqui, só que de um jeito muito mais legal: