Drama e emoção na série “Segunda Chamada”, da Globo
Com um elenco fixo impecável, além de participações especialíssimas, a TV Globo nos brindou esse ano com mais uma excelente série brasileira. “Segunda Chamada” retrata o dia-a-dia do período noturno em uma escola municipal de São Paulo, mostrando como é o ensino para jovens e adultos pobres neste país. Como participações temos Nanda Costa e Carol Duarte (“A Vida Invisível”), por exemplo. Já no elenco fixo, estão Débora Bloch, Sivio Guindane, Hemila Guedes, José Dumont, Felipe Simas, Caio Blat, Otávio Miller, Linn da Quebrada e a brilhante Thalita Carauta que representa de forma belíssima a melhor personagem da série, a professora Eliete, que é de certa forma o alívio cômico da série, ainda que de forma tão respeitosa com seus dramas pessoais, que também não são poucos.
No estilo do que foi a última temporada de "Malhação: Vidas Brasileiras”, a cada semana “Segunda Chamada” foca no problema de algum aluno ou professor, mas tendo o caso de Lúcia (Débora Bloch) como norte principal e sem esquecer cada um dos outros alunos, que são, em sua maioria, mostrados em todos os episódios.
Nesta escola, que atende pessoas pobres e que moram longe, estudam motoboys, religiosos, travestis, grávidas, presidiárias, senhoras de idade, pessoas em situação de rua etc, cada um com seu drama pessoal (assim como os professores). São muitos problemas, preconceitos do mais variados, e muitos, muitos temas sendo tratados como, assédio, violência doméstica, tráfico, xenofobia e muito mais. É bom ainda notar que muitos (senão todos) dos problemas relacionados às mulheres têm relação com as mais diversas formas de machismo.
Poderia ficar excessivo tratar de tantos temas, já que mal se resolve um problema e já vem outro, sempre muito grave. De fato, às vezes é de perder o fôlego e fica difícil acompanhar tudo, mas o roteiro consegue mostrar tudo de forma muito bem amarrada e não fica a impressão de ser superficial, mas sim, os temas são tratados de forma bastante respeitosa. As professoras, a maioria mulheres, também têm problemas tão grandes quanto os dos alunos, e ainda assim estão sempre dispostos a ajudar qualquer aluno em qualquer problema que seja, sem medir esforços. Isso mostra exatamente e de forma fantástica como o papel da escola vai muito além da sala de aula. É ainda mais triste constatar como nem sempre os finais são felizes, e há problemas que ninguém consegue resolver, que são realmente maiores que nós.
“Segunda Chamada” joga muitas coisas na cara da sociedade. O roteiro coloca com clareza como não há pessoa 100% boa ou má, que tudo tem vários lados e há problemas peculiares da vida da periferia no Brasil. A mesma pessoa que sofre um preconceito aqui, pratica outro ali.
Atenção especial ainda para a trilha sonora, que tem “Comportamento Geral”, de Gonzaguinha na abertura, na bela voz dramática de Elza Soares. Ao final de cada episódio há um depoimento de alunos que voltaram para a escola depois de adultos, com patrocínio do Sesi. Toda a primeira temporada de onze episódios de “Segunda Chamada” está disponível no Globoplay e a segunda temporada já está acertada e deve estrear ainda em 2020.