“Uma Mulher Alta” esconde a delicadeza e revela as sombras das mulheres que lutaram no exército sovi
A guerra não tem rosto de mulher? Talvez “Uma Mulher Alta” contrarie as possíveis respostas para essa pergunta, que dá título ao livro de Svetlana Aleksiévitch. O senso comum diria que o espaço da guerra é dominado pelos homens e sua postura bélica. Afinal, como poderíamos pensar diferente se a História nos foi contada através da perspectiva masculina? Mas a autora contribuiu enormemente para formar uma visão plural dos grandes acontecimentos do século XX; reuniu relatos das figuras femininas que lutaram no exército soviético durante a II Guerra Mundial. Sendo assim, o filme, inspirado nesse livro emblemático, apresenta a sensível e desesperada experiência de duas amigas de front, no período após a vitória dos Aliados.
Íya (Viktória Mirochnitchênko) e Masha (Vasilisa Perelygina) retornam a Leningrado, ambas profundamente marcadas pelas consequências da guerra. O cenário não permite que a complexa relação das duas jovens se transforme em belas recordações. Pelo contrário, há um peso incontornável que as acompanha, fazendo a amizade se perder entre o amor e o abuso. Desse modo, o espectador menos protegido pode se deixar contaminar pela dureza de uma realidade distante. Confesso que deixei a sala de cinema um pouco incomodada. Neste tempo sombrio que vivemos, o fantasma de tais conflitos ainda ronda e compreendemos todas as faces humanas reveladas na adversidade. Tanto a bondade, quanto o ímpeto vil que se revela em algumas pessoas. Entretanto, “Uma Mulher Alta” é um filme bastante bem sucedido em se distanciar da tradicional narrativa masculina, conferindo a sensibilidade necessária para nos atingir. É uma produção de atmosfera pesada, mas esconde delicadeza nos lugares mais improváveis. Cabe ao público estar disposto à tarefa de encontrá-los.