“Azougue Nazaré”, uma bela homenagem à cultura brasileira
No próximo dia 14 de novembro estreia “Azougue Nazaré”, longa pernambucano que faz uma bela homenagem à cultura popular brasileira. Ambientado em Nazaré da Mata, município da Zona da Mata pernambucana, neste Brasil profundo do qual pouco sabemos, “Azougue Nazaré” trata do maracatu e seus conflitos com a religião.
O filme é estrelado por Valmir do Coco, que representa Catita, um operário de uma usina hidrelétrica e importante membro do maracatu local. Ele é casado com Darlene, muito envolvida com a igreja que tenta frequentemente tirá-lo do maracatu, por entendê-lo como “coisa do demônio”, o que causa um eterno conflito entre o casal.
Este longa trata desta mistura da cultura popular com o evangelho importado, que reprime de forma hipócrita uma manifestação popular, para matá-la. Porém, é importante salientar também como estas igrejas neopentecostais estão presentes em todos estes rincões do país, muitas vezes se aproveitando, outras servindo como suporte para as pessoas que precisam.
O maracatu no nordeste é muito maior do que nós aqui no sudeste podemos imaginar, principalmente no carnaval, quando sua manifestação se espalha ainda mais. O filme busca resgatar essa expressão cultural e mostra, além da festa pronta, as pessoas envolvidas e todo o processo anterior, como as rimas e as oficinas em que todos juntos confeccionam as roupas e fantasias, em um trabalho conjunto.
Para isso, foi de grande importância o uso de recursos da Ancine, já que não é comum que temas como esse se tornem comerciais no Brasil. Ultimamente, a agência tem sofrido diversos ataques do governo federal, que insiste em negar a cultura brasileira. O contato com “Azougue Nazaré” nos faz entender ainda mais a importância do fomento estatal para a divulgação da nossa cultura, com investimento em produções que não visem somente o lucro, mas também a difusão de ideias, do que é produzido aqui, da valorização do nosso povo.
Segundo Tiago Melo, diretor do longa, o filme rompe com a visão habitual da cultura popular. “Ele desmistifica o dia a dia dos maracatuzeiros, trazendo emoções e desejos de pessoas por trás das fantasias, confrontando a ideia de uma manifestação parada no tempo, com o uso funcional de tecnologias e das redes sociais, que naturalmente facilitam a comunicação”, diz. O elenco se destaca com a interpretação e atuação de mais de sessenta integrantes do Grupo de Maracatu, que fortalece a narrativa do filme ao acompanhar personagens fictícios envolvidos em questões reais e contemporâneas, a tensão religiosa e a expectativa do carnaval. “O elenco é a alma do filme. Me sinto privilegiado em ter sido tão acolhido dentro dos maracatus e ter construído esse filme junto com esses artistas que eu admiro”, completa.
Há ainda uma questão sobrenatural, que é menos importante diante de toda a música, cor e dança típicos do maracatu, que encantam e preenchem a tela. “Azougue Nazaré” ganhou o prêmio especial do júri na edição de 2018 do Festival do Rio, além de ter passado por vários outros festivais e recebido outros prêmios, e tem como um dos produtores associados Kleber Mendonça Filho, diretor de “Bacurau”. O diretor Tiago Melo também é diretor de produção de “Divino Amor” e “Aquarius”.