“Maya” sob o olhar de Gabriel
Estreou no último dia 20 de junho o francês “Maya”, da diretora e roteirista Mia Hansen-Løve. No longa, Gabriel é repórter de guerra, e, junto com outro amigo jornalista, foi mantido refém na Síria por quatro meses, em 2012. Ele acaba de voltar a Paris, mas não quer mais ficar nessa cidade. Nada mais o prende. Ele não sabe bem como lidar com essa situação toda que viveu, não quer fazer uma terapia ou reviver aqueles momentos. Prefere tirar um tempo para si. Se separa da mulher, não retoma o trabalho, e vai para Goa, cidade indiana onde já havia vivido na infância e buscar se reconectar com esse seu passado, para tentar legitimar e explicar um pouco sua existência. Essa é sua terapia.
Por mais que o protagonista da história seja Gabriel, duas personagens femininas, uma que ele vai em busca, e outra que ele acaba encontrando sem querer, acabam formando mais quem ele é do que ele próprio. Ele busca sua mãe, que o abandonou na infância, procurando compreendê-la e compreender a si próprio. E encontra Maya, filha de seu padrinho, que é uma jovem muito mais nova, mas que mexe mesmo que de forma sutil com seus sentimentos, enquanto ele tenta se enganar. Ela é jovem e muito inteligente, teve a possibilidade de morar em Londres e viver uma vida longe dali, mas prefere ficar perto da família e ajudar o pai em seu empreendimento, um hotel de luxo tradicional.
Entretanto, tudo isso é construído de maneira frágil, e não sentimos nenhum tipo de empatia pelo personagem e tampouco por seus afetos. As cenas são compridas e mal-acabadas, com diálogo chatos e incompletos, que cansam. E, é claro, o que essas mulheres são e representam é só o que importa para ele. Maya é, neste filme, apenas o que ela representa para Gabriel. Mas, de forma sutil, ela se mostra muito maior que isso.
O filme é complicado, por esse olhar bem machista sobre a mulher. Funciona bem enquanto está na França e mostra o desespero de um homem silencioso, que jamais expõe seus sentimentos e não sabe bem o que fazer com a vida, agora que ganhou uma chance. Mas a virada que dá quando Gabriel vai à Índia e conquista Maya de forma inconsequente e se perde em seus sentimentos. Ela serve apenas como catapulta para que ele se renove.
Por outro lado, é um belo filme de viagem, que explora as belas paisagens do litoral indiano, em contraste com as precariedades das residências e os resorts de luxo para turistas. É um bacana roteiro da Índia, ainda que superficial. Mas é bom lembrar que sob os olhos de um estrangeiro. Alguém que viveu lá no passado e tem forte ligação afetiva, mas, ainda assim, um estrangeiro.