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"Graças a Deus" e um novo olhar sobre a pedofilia na Igreja


Poster "Graças a Deus"

Estreia neste dia 20 de junho mais um filme de um caso de pedofilia na Igreja Católica. Depois do sucesso de “Spotlight” e tantos outros longas sobre o tema, agora temos “Graças a Deus”, uma ficção baseada em fatos reais desta vez referente a casos ocorridos entre as décadas de 1980 e 1990 em Lyon, na França.

Quem inicia as investigações e denúncias a respeito desse caso é Alexandre, um pai de família que leva uma vida normal até descobrir que o padre Preynat, que abusou dele na infância, ainda trabalha com outras crianças. Neste momento, ele começa uma saga em busca de justiça. Inicialmente, como católico que ainda é, procura ajuda na própria Igreja, empenhado em afastar o padre, principalmente de suas funções com as crianças.

Em seu primeiro encontro com Preynat, ele agiu como se nada tivesse acontecido e, quando Alexandre entrou no assunto, o padre admitiu o que fez, assume que fez ainda com várias crianças, e se trata como vítima da própria doença. Entretanto, Preynant não pediu perdão, como Alexandre esperava que fizesse e nem concordou admitir seus crimes publicamente, com medo de manchar sua imagem e sofrer retaliações.

Mas com a insistente omissão da Igreja Católica e proteção do padre pedófilo, ele resolve então ir até à Justiça formal. E é dessa forma que a condução dos trabalhos chega até outros homens que foram abusados pelo mesmo padre na infância. A sua maioria, no início, tem dificuldade em rememorar esses momentos e preferem, a priori, não se envolver. Mas, conforme as investigações vão avançando e eles vão conhecendo outras vítimas, se sentem de certa forma mais acolhidos e criam até mesmo uma associação, a La Parole Liberée.

Cena de "Graças a Deus"

São muitas as questões colocadas nesse longa: como cada criança reagiu, as reações das diferentes famílias (algumas se colocaram ao lado dos filhos, outros preferiram fingir que não viram), como essas lembranças afetam seus casamentos, sua saúde, forma como se relacionaram com seu corpo.

As primeiras denúncias de Alexandre começam em 2014 e a história se desenrola até os dias atuais, em que a questão ainda não está concluída. A imprensa também foi fundamental para o andamento das investigações, assim como a publicização dos casos, que estavam sendo levados em sigilo pela Igreja e pela polícia.

O maior problema do filme é a sua duração, longa demais. Acredito que justamente para dar a sensação que têm essas vítimas, que veem o caso se arrastando judicialmente por anos. Ainda assim, muitas cenas se mostram de certa forma desnecessárias e cansativas. Em cada momento do longa, o foco muda de uma vítima para a outra, mostrando como elas reagem a todas as investigações e suas relações familiares.

O diretor foca muito mais nas relações humanas e na busca por justiça do que em erotismo ou cenas dos abuso de fato. Dá muitos detalhes da associação, suas exaustivas reuniões, com até mesmo algumas divergências das vítimas de quais seriam as próximas fases e quais os objetivos finais de toda essa luta. Mais de setenta vítimas denunciaram os abusos sofridos e em março de 2018 o cardeal Barbarin foi condenado a seis meses de prisão por não denunciar as agressões sexuais cometidas por Preynat. Outra vitória conseguida foi o aumento no tempo de prescrição de crimes de 20 para 30 anos na justiça francesa, o que teve influência direta no caso.

Dirigido por François Ozon, “Graças a Deus” conquistou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2019 e foi um dos destaques da edição de 2019 do Festival Varilux de Cinema Francês no Rio.


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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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