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"Rindo à Toa" e o "humor sem limites" da reabertura política


Depois de "Tá Rindo de Quê?", documentário lançado no início de 2019 e que abordava as lutas para se fazer humor no período da ditadura, o trio de diretores Alê Braga, Álvaro Campos e Cláudio Manoel volta às telonas com "Rindo à Toa", mostrando as transformações no meio após a abertura política.

Foram anos de repressão sobre todo tipo de conteúdo produzido e, com o fim deste controle, os humoristas se viram livres para fazer o que bem entendessem. Limites? Para alguns, eles ficaram um bom tempo sem existir. Todo aquele desejo de se expressar reprimido por tanto tempo precisava sair e não havia preocupações como a garantia de que ninguém se sentisse ofendido, principalmente as classes já oprimidas na sociedade. Havia piadas absolutamente grosseiras com mulheres, gays, negros...

Só o tempo seria capaz de mudar as mentes destes produtores de humor. Só as novas discussões sociais mostrariam os exageros existentes e que determinadas piadas eram constrangedoras e violentas, não engraçadas. É muito bacana assistir a avaliação que integrantes do Casseta e Planeta, por exemplo, fazem de suas piadas. Entendem que no fim dos anos 80 e na década seguinte não tinham a mesma maturidade que têm hoje, entendem que a sociedade era outra, mas entendem também que aquele conteúdo já não faz sentido atualmente, que o humor contemporâneo não comporta este tipo de deslegitimação de determinados grupos.

De qualquer forma, não é com todos que isso acontece. Sempre há, por exemplo, alguém contra a corrente da maturidade, como Roger, do Ultraje a Rigor, banda conhecida por suas sátiras e brincadeiras nas músicas. Mesmo diante de tantas disputas de narrativas e novas discussões diárias sobre racismo, por exemplo, ele ainda consegue afirmar que não deve haver problema com brincar com a cor de alguém, já que ele, por exemplo, não se sente ofendido ao ser chamado de branquelo. Em "Rindo à Toa", faltou pouco para ele citar a ideia do "racismo reverso".

O documentário nos mostra o surgimento de diversos grupos de humor nascidos nos anos 80, num período em que a liberdade artística tão desejada finalmente vai dando as caras. Agora, sem repressão externa, são eles próprios que precisam avaliar, discutir e debater se humor tem ou não limites, se ofensas são ou não perdoáveis. Através de entrevistas e imagens de arquivo, é muito interessante avaliar as transições de pensamento de determinados humoristas ao longo de seu amadurecimento. Num universo em que, teoricamente, tudo é permitido, será que tudo é também válido?

Para wix.jpg

Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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