"La Cama" e a cumplicidade do fim de um casamento
30 anos de casamento. Quando decidiram se separar, depois de uma vida inteira compartilhada, talvez Mabel e Jorge não imaginassem a intensidade da decisão. Mesmo que tudo aconteça de comum acordo e sem grandes traumas, ninguém pode dizer que é fácil mudar rotinas há tanto tempo divididas. Em "La Cama" acompanhamos as últimas 24h que um casal passará junto.
Em um ritmo lento, que pode remeter à dificuldade de ambos para darem o verdadeiro adeus à vida anterior, o longa nos mostra a maturidade do casal em suas "atividades burocráticas". De maneira bucólica, porém sem dramas, dividem o que pertence a cada um, inclusive remédios e discos antigos. Cenas de sexo também estão presentes, numa tentativa de se conhecerem e reconhecerem pela última vez antes da fatídica separação. Aliás, a presença da nudez de ambos em quase todo o filme mostra como, apesar de tudo, marido e mulher ainda se sentem confortáveis na presença um do outro, a cumplicidade de uma vida compartilhada segue presente.
Em longas cenas estáticas provenientes de uma câmera parada e com pouquíssimos diálogos, captamos a bagunça de uma casa pré-mudança e sua relação com a bagunça de almas ainda tão confusas diante do futuro obscuro: como é se redescobrir após 30 anos vivendo a dois (e agora já na terceira idade)?
O mundo externo, aqui, é quase nulo. O que nós acompanhamos são duas almas se despedindo de quem foram para se transformar em quem serão.