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"O Candidato Honesto 2" e o desperdício da possibilidade de discussão


Em tempos de eleições, todos devemos ficar atentos a tudo que fazemos e falamos, a cada passo que damos. Principalmente quando o assunto é um produto midiático. O que se diz no cinema, na TV, no rádio, nos jornais ou na internet pode afetar e atingir muito mais gente do que imaginamos, com boas ou más ideias. "O Candidato Honesto 2" chega aos cinemas exatamente um dia antes do início do horário eleitoral gratuito de 2018. Mesmo sabendo que é uma sátira ou comédia, há de se pensar que o longa será lançado nesta data por saber que este é o assunto do momento, o que possivelmente renderá maior arrecadação de bilheteria. Mas ele também tem a possibilidade de transmitir mensagens. E aí mora o perigo.

O filme é uma continuação daquele lançado em 02 de outubro de 2014 (no período das últimas eleições presidenciais) e retoma a história de João Ernesto (Leandro Hassum) que, após cumprir quatro dos quatrocentos anos de cadeia, é convencido a se candidatar à presidência novamente. Adorado pelo povo por ser um político que assumiu seus erros, ele vence as eleições, mas não tem vida fácil em Brasília acompanhado excessivamente de perto pelo sinistro vice Ivan Pires (Cassio Pandolfh), que parece vocês sabem quem.

"O Candidato Honesto 2" faz um caminho infelizmente seguido por muitos blockbusters da comédia brasileira, com um tanto de piadas machistas e homofóbicas (daquelas que já deveriam ter sumido e só me causam constrangimento, mas muitos ainda cismam em achar graça). No enredo atual, João Ernesto é um personagem que mistura tantos outros da nossa política, mas com uma tendência a nos fazer associá-lo predominantemente ao PT, com falas e assuntos como "João, Ladrão, roubou meu coração", "minha mulher comprou um triplex", "impeachment", "o golpe não aconteceu", etc... Além de diversas facetas em apenas um João Ernesto, o longa traz ainda personagens como o "vice vampirão" ou o político fascista a favor das armas para toda a população. Porém, no geral, a mensagem que ele passa é: "todos os políticos são iguais. Ninguém presta". E isto, neste momento, não ajuda em nada. Pelo contrário: o que precisamos é debate, da capacidade de reflexão e de menos generalização. O filme joga tudo isso por água abaixo.

Não que seja exatamente um longa sem graça. Creio que, exatamente por colocar todo o mundo da política no mesmo pacote, fatalmente todos encontrarão motivos pra rir em algum momento. Mas são esporádicos e sem continuidade. E o período é absolutamente inapropriado pra mensagem passada, coroada pelo discurso final, que considero conformista e até mesmo perigoso.

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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