#JáLi - "O Sol na Cabeça", de Geovani Martins | VÍDEO EXTRA
Trechos para anotar no caderninho:
- "O bagulho era que tinha uns cana ali parado, escoltando nós. Tava geral na intenção de apertar o basado, e os cana ali. Esses polícia de praia é foda. Tem dias que eles fica sufocando legal. Eu acho que das duas uma: ou é tudo maconheiro querendo pegar a maconha dos outros pra fazer a cabeça, ou então é tudo traficante querendo vender a erva pra gringo, pros playboy, sei lá. Sei é que quando eu vejo cana querendo muito trabalhar fico logo bolado. Coisa boa num é!"
- "As pessoas costumam dizer que morar numa favela de Zona Sul é privilégio, se compararmos a outras favelas na Zona Norte, Oeste, Baixada. De certa forma, entendo esse pensamento, acredito que tenha sentido. O que pouco se fala é que, diferente das outras favelas, o abismo que marca a fronteira entre o morro e o asfalto na Zona Sul é muito mais profundo. É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente para um condomínio, grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros".
- "Não gostava de imaginar, mas não conseguia evitar. Era igual cheirar a mão quando está fedendo, ou alguma coisa assim".
- "Eu fico de bobeira quando dou um rolé na pista e vejo que nego não sabe nada que acontece aqui dentro"
- "Ter um estojo, sentar na frente, responder às perguntas do professor, são péssimas ideias pra quem pretende ser respeitado na escola"
- "Nanda fitava o mar. Séria. Parecia refletir sobre a existência de toda aquela água e sobre qual acontecimento fantástico permitiu que nossos átomos se juntassem naquele lugar, naquele exato momento. Às vezes Nanda pensa demais".
- "Hoje percebo que ninguém olha a gente na rua. Nossa dor, nosso vício, nosso vexame, é tudo muito distante dos outros".