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“Baronesa” e a difícil realidade de mulheres na periferia de Belo Horizonte


Cartaz Baronesa

Ser mulher é sempre difícil. Mas ser mulher pobre e de periferia é foda. E foi no bairro Juliana, na cidade Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, que a diretora Juliana Antunes encontrou as personagens para o filme “Baronesa”, que estreou nos cinemas no último dia 14 de junho. O documentário conta a história de Andreia e Leid, duas mulheres que lutam como podem para sobreviver.

Leid tem quatro filhos e um marido na cadeia. Andreia é manicure e tenta se mudar para o bairro da Baronesa, que dá título ao longa, em busca de uma vida um pouco menos atribulada. A todo momento, as duas amigas se ajudam, seja com os cuidados com os filhos, ou ao escrever uma carta para a família. Seus destinos são marcados por tragédias todo o tempo e é impressionante a força dessas mulheres, que fazem de tudo para se virar. Com olhares cheios de emoção, é como se elas não tivessem o privilégio nem ao menos de chorar.

Em alguns momentos, este documentário pode lembrar "Corpo Delito" , de Pedro Rocha, ao mostrar os percalços da vida na periferia, mas "Baronesa" tem viés mais feminista (o que, para mim, o torna ainda mais interessante) mostrando a vida das mulheres periféricas, que convivem com o crime diariamente, de diversas maneiras.

Cena Baronesa

Filmado entre 2015 e 2016, a diretora cria uma narrativa que nos desperta um grande afeto pelas pessoas retratadas. Parte desse olhar generoso se deve ao fato de Juliana ter se mudado para o bairro, onde morou por alguns meses para acompanhar a vida das personagens escolhidas. Essa foi uma exigência de Andreia, que não poderia dar todo o seu tempo e nem saber com que antecedência poderia gravar. "Aluguei um barracão de 30m² para eu morar sozinha e lá fiquei por seis meses, com visitas semanais da equipe”, contou Juliana Antunes.

O roteiro do filme tinha que ser mudado a cada dia, muito em função dos acontecimentos imprevisíveis, como exemplifica a diretora: “No exato dia da minha mudança, por exemplo, uma guerra entre traficantes locais se anunciou (a guerra segue até hoje) e mudou completamente os rumos do projeto”. Outra grande dificuldade encontrada pela equipe foi a necessidade de uma “autorização masculina” de maridos, irmãos e namorados que permitissem que as mulheres fossem gravadas, como completa Juliana: “Perdemos a oportunidade de gravar várias outras mulheres pela misoginia. Infelizmente, o material bruto é repleto de ‘takes únicos’ de mulheres brilhantes que tiveram o processo interrompido por eles”.

A equipe de Juliana Antunes é formada por muitas mulheres e deixa um recado ao final do filme, que eu gostaria de reiterar: “Toda força às mulheres de periferia de Belo Horizonte.” Esse é um daqueles filmes que nos cortam o coração e fazem refletir por horas. Triste, bonito e importante o trabalho da diretora. Confira o trailer:


Para wix.jpg

Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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