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Elza Soares, "Deus Há de Ser" e a potência do sagrado feminino


Aprendemos, após séculos e séculos de uma sociedade absolutamente patriarcal, a chamar a figura de Deus de "Pai" e a usar o gênero masculino quando fazemos referência a "Ele". Mas... e se Deus for mãe? É a este pensamento que a letra de Pedro Luís nos leva, no novo single de Elza Soares (o link para ouvir a canção completa está no final do post). A música faz parte do próximo álbum da cantora, "Deus é Mãe", que chega às lojas e plataformas digitais em 18 de maio.

 

Deus há de ser fêmea Deus há de ser fina Deus há de ser linda Deus há de ser

 

A nova música segue um caminho já mostrado no último trabalho de Elza, "A Mulher do Fim do Mundo", tanto em ritmos e sons, quanto em letras de empoderamento. Aqui, mais uma vez, Elza se encontra com o experimentalismo musical, com uma qualidade rítmica diferente, amiga dos sintetizadores e das produções eletrônicas. Por vezes, achei que havia informação em excesso (mas entendo que isso possa ser uma questão de gosto pessoal mesmo). Senti falta de ouvir mais nitidamente a voz única de Elza e absorver ainda mais a letra potente. Aliás, que letra! Pedro Luís se mostrou muito sensível a este momento da carreira de Elza e, sem perder seu estilo de composição, colocou em palavras um sentimento de força e poder que encontrou na mulher do fim do mundo a melhor expressão.

Quem conhece a história de Elza Soares consegue entender ainda melhor a importância deste momento na carreira dela. As denúncias, os sentimentos, os recomeços não poderiam encontrar melhor voz na música brasileira. Elza nasceu em uma favela do Rio e, com 12 anos, foi obrigada pelo pai a se casar. Engravidou pela primeira vez aos 13 e teve, ao todo, 7 filhos. Aos 21 anos, Elza já havia velado o primeiro marido e dois de seus filhos, que morreram de fome! Elza começou a cantar para dar de comer às crianças. Foi ao programa do Ary Barroso (sua primeira apresentação) com o objetivo de conseguir o prêmio e levar para casa o alimento necessário. Mas, a partir daí, ela foi encantando um por um com sua voz única e especial. Elza se casou com um astro do futebol, Garrincha. Foi amante. Foi mulher. Sofreu com a violência doméstica de um marido alcoólatra. Elza já desceu e subiu muitas vezes. Pensou em desistir. Perdeu outros filhos. Mas o recomeço existiu novamente e ela foi eleita pela Rádio BBC de Londres a cantora do milênio em 1999. Sofreu uma queda num palco, passou (e passa) por sérias dificuldades para se locomover. Poderia ter mais uma vez pensado em desistir, mas aproveitou os 50 anos de carreira para lançar o seu primeiro álbum totalmente de inéditas, o aclamado "A Mulher do Fim do Mundo".

Elza é uma mulher fascinante, que representa tantas mulheres negras na luta diária por sobrevivência. Ela fala com a dor e a potência de quem viveu tudo aquilo e, com todas as cicatrizes, lembra do que aprendeu ao longo do tempo. E canta, grita, resiste, denuncia, para que outras não precisem passar pelo mesmo.

A Elza, meu total respeito.

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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