“O Dia do AI-5”, do professor Márcio Tavares D’Amaral
Nunca me canso de conhecer histórias e casos que ocorreram durante a ditadura militar. E são tantas histórias, de tantas pessoas e acontecimentos, que acabamos sempre conhecendo novos (e ao mesmo tempo tão parecidos). Uma destas histórias está no livro “O Dia do AI-5”, de Márcio Tavares D’Amaral, filósofo e professor da Escola de Comunicação da UFRJ (também conhecido como lugar onde estudei). Escrito em 1994, ou seja, com um distanciamento de 25 anos dos acontecimentos, o livro conta o dia de um grupo de amigos que militavam contra a repressão do regime militar.
Era 13 de dezembro de 1968. O Brasil acordou com um decreto que ficou conhecido por ser o mais duro golpe da ditadura militar. O Ato Institucional Nº5 (AI-5) levou a uma série de arbitrariedades e censuras no país. “O Dia do AI-5” se passa todinho neste dia.
Com uma narrativa diferente, Márcio Amaral conta os casos vividos por Matheus, Rafael, Antônia, Pinto e Godô. Alguns deles marcantes e que dá aquela vontadinha de chorar, como torturas e desaparecimentos. Digo que sua narrativa é especial, porque a história é toda contada como se em um só fôlego, com poucos capítulos e sem muitas divisões. Uma história mais contínua. Se passa todo em um só dia, com alguns parênteses para memórias de antes ou de depois.
O Autor (com letra maiúscula mesmo, como ele escreve) se coloca o tempo todo no livro, conversando com o Leitor. São feitos parênteses todo o tempo, para manter essa relação de cumplicidade, deixando a leitura interessante e diferente do que costumamos ler.
Ao final do livro (com algumas passagens copiadas para o meu caderninho, porque sou dessas) dá uma vontade de bater palmas pela conclusão que o autor nos leva. Segue um trecho:
“O que é, para esses, o passado? É a matéria do sonho. Diz, na memória, que o impossível é um duro limite, mas o sonho não é impossível. Desejam o passado, como no passado desejavam o futuro. Por isso podem viver o presente como quem ainda e sempre está a caminho. Por amor ao passado e ao futuro, não se congelaram na indiferenciação do quotidiano ou na indiferença da vida. São poderosamente vivos.”