#JáLi - "No Seu Pescoço", de Chimamanda Ngozi Adichie
Trechos para anotar no caderninho:
- Porque ela realmente pertencia àquele país agora, àquele país de curiosidades e crueldades, um país onde era possível dirigir à noite sem ter medo de bandidos armados, onde os restaurantes serviam para uma pessoa o suficiente para três.
- Fiquei surpreso ao ver as lágrimas que brotaram nos olhos de Ikenna. Ele tinha esquecido o nome dela, mas, de alguma forma, era capaz de lamentar sua perda; ou, talvez, estivesse lamentando a perda de uma época imersa em possibilidades. Ikenna, eu me dei conta então, é um homem que carrega consigo o peso do que poderia ter sido.
- Tinha passado a entender que, nos Estados Unidos, criar filhos era fazer malabarismos com diversas ansiedades, e que isso era resultado da comida em excesso: as barrigas cheias davam tempo aos americanos para que temessem que seus filhos pudessem sofrer de uma doença rara sobre a qual tinham acabado de ler; faziam com que eles pensassem que tinham o direito de proteger seus filhos das decepções, das necessidades, dos fracassos.
- Ele disse que queria muito conhecer a Nigéria e podia comprar passagens para vocês dois. Você não queria que ele pagasse para você visitar seu próprio país. Não queria que ele fosse à Nigéria, que a acrescentasse à lista de países que ele visitava para admirar-se com as vidas dos pobres que jamais poderiam admirar a vida dele.
- Ukamaka o observou e pensou como as missas católicas era mais sisudas nos EUA; na Nigéria, o padre teria usado o galho verde-vivo de uma mangueira, molhando-o num balde de água benda segurado por um ajudante nervoso e suado; ele teria percorrido a nave a passos largos, molhando e girando, com a água benta chovendo em cima; as pessoas teriam ficado encharcadas; e, sorrindo e fazendo o sinalda cruz, teriam se sentido abençoadas"